quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Escolares e seus celulares

Conheci o Professor José Aparecido, na Usp de Ribeirão e me apaixonei. Não tem como não se apaixonar. É um senhor culto, multitarefa,estudioso, simpático, etc... E lendo alguns de seus "trocentos" artigos escolhi esse para dividir com vocês.
 


Escolares e seus celulares 
 

A influência dos celulares no caminhar seguro de pedestres escolares tornou-se preocupante devido ao fato de tais aparelhos, antes apenas privilégio de alguns, ter se tornado um bem de consumo de fácil aquisição por aqueles, num ano em que, aproximadamente, 55% de jovens, entre oito e 12 anos, encontrarem-se vulneráveis a todos os “problemas” que eles causam, bem como, podem vir a causar.

A principal razão para se preocupar com o uso de celulares por escolares é a exposição a acidentes que eles, a estes, submetem, quando utilizados ao atravessar ruas, atividade cognitiva já altamente complexa, concorrendo com a atenção perceptual e motora do escolar, e dificultando-a. Estudiosos do assunto defendem a idéia de que estes escolares não têm ainda desenvolvidas as habilidades perceptuais e cognitivas necessárias para, simultaneamente, perceber e processar distância, velocidade e padrões de aceleração de, pelo menos, dois veículos, assim como, a largura de um lado ao outro da rua e a velocidade de que necessitariam para cobrir tal largura.

Partindo destas suposições, pesquisadores hipotetizaram que os pré-escolares comportar-se-iam de maneira mais arriscada quando cruzando ruas, envolvidos em conversação telefônica, do que quando atentivos, sem uso celular. Para investigar, experimentalmente, tal hipótese, quatro indicadores de cruzar uma rua em segurança foram analisados: (1º) tempo inicial do cruzar a largura da rua, (2º) tempo requerido para cruzar toda a largura da rua em total segurança, (3º) esbarramento e advertência sonora e (4°) atenção ao tráfego, com olhadelas à direita e à esquerda antes de cruzar a largura da rua.

Os resultados sugerem que celulares distraem escolares enquanto cruzando ruas, pois, em todos os quatro indicadores, estes tenderam se comportar de maneira mais arriscada enquanto falando ao telefone, do que quando não falando. Há, também, indicação de que escolares mais jovens tenham, de algum modo, taxas mais altas de distração do que as crianças mais velhas. Ademais, é importante reconhecer que o comportamento de um pedestre é multifacetado, ou seja, um caminhar seguro envolve um conjunto de tarefas motoras, perceptuais e cognitivas, as quais foram, substancialmente, alteradas pela distração provocada pelo celular, com a aprendizagem e experiência no uso do celular não diminuindo tais riscos. Tal padrão de resultados sugere que, assim como ocorre com os motoristas em geral, que devem limitar o uso do celular, enquanto dirigindo, os pedestres, especialmente os escolares, devem limitar o uso do telefone celular enquanto cruzando ruas.

Focalizando excessivamente adolescentes como potenciais consumidores de suas tecnologias, as companhias de marketing deveriam ser orientadas a incluir, em seus manuais, modos do “uso seguro” do celular. Eis um bom mote para a Transerp.

(José Aparecido da Silva é professor da USP-RP)

Um comentário:

Maristela... disse...

O problema é que os adolescentes atravessam as ruas em bando, e geralmente formando um cordão... fica mais fácil eles atropelarem os carros do que os carros os atropelarem...

Devia ser proibido levar celular na escola... eles mexem naquilo o dia todo, com aquelas musiquinhas irritantes... é o fim!